Desastre ambiental em Uberaba após descarrilamento de trem faz 10 anos
segunda-feira, 10 de junho de 2013No dia 10 de junho de 2003, um trem de carga da Ferrovia Centro Atlântica (FCA) com destino à cidade de Paulínia, no interior de São Paulo, descarrilou em Uberaba causando o maior desastre ambiental do Triângulo Mineiro. Dentro dos vagões haviam produtos químicos inflamáveis, que caíram próximo ao Córrego Alegria, um dos afluentes do Rio Uberaba, responsável pelo abastecimento da cidade. Mesmo depois de 10 anos, ainda são feitas análises quinzenais de amostras colhidas nos cursos d’água. E embora os laudos apontem que há presença de substâncias químicas no solo, a empresa afirma que não há risco de contaminação.
A área de 2,5 hectares fica isolada e é monitorada 24 horas por dia. Para ter acesso ao local é obrigatório o uso de equipamentos de segurança na cidade Uberaba. Poços estão espalhados por todos os lados e, por meio deles, os laboratórios fazem o tratamento da água. Ao longo dos anos, os métodos para remediar o problema foram modernizados.
Este ano, a FCA tem orçamento de R$ 1 milhão só para os trabalhos de redução de impactos. “Hoje o tratamento consiste no sistema de remediação, onde foram realizados furos para a abertura de poços. A água é coletada passa para o sistema e retorna purificada para os rios”, esclareceu o gerente-geral de Meio Ambiente, Marcelo Augusto Ferreira.
Ainda de acordo como gerente ambiental, por enquanto não há previsão de quando esse acompanhamento será finalizado. “Nós não trabalhamos com prazo, trabalhamos com o compromisso da qualidade e isso implica em técnicas modernas de remediação. Os prazos são acordados com os órgãos ambientais, FCA e o Ministério Público e estão dentro de uma previsão inicial nossa”, afirmou Marcelo.
Impacto ambiental e lembranças de moradores
O trem com 18 vagões transportava octanol, metanol, isobutanol e cloreto de potássio. O tombamento dos vagões foi seguido por explosões e, na ocasião, o Corpo de Bombeiros trabalhou dez dias ininterruptos. O capitão Ricardo Maresguia atuou nas frentes de trabalho e não se lembra de ter dormido nos quatro primeiros dias após o acidente. “Todos os militares ficaram mais de 14 dias no local. Mas esse acidente trouxe reflexos, além dessa data, para outros meses seguintes, onde tivemos que retornar várias vezes”, lembrou.
Entre as consequências do acidente estão 1.000 metros de mata ciliar devastados, vários animais mortos, um córrego contaminado com 670 toneladas de produtos químicos e mais de 250 mil pessoas sem água, uma vez que o veículo descarrilou acima da captação de água e todo o abastecimento da cidade. Com o abastecimento suspenso, foi decretado estado de calamidade.
Foi um período que alterou a rotina da população uberabense. Para conseguir água para as tarefas básicas do dia a dia, os moradores formaram filas esperando caminhões-pipa e a água era armazenada de todas as formas possíveis. Uma década depois, a aposentada Maria Vanilde Massa lembra bem daqueles dias em que a distribuição em grande parte era feita por meio dos caminhões. “Os caminhões vinham de madrugada. Enquanto meu marido trazia, eu já ia lavando as roupas. Às vezes a gente estava dormindo e escutava o barulho do caminhão e tinha que sair correndo para pegar água”, contou.
A costureira Esmeralda Souza contou que corria atrás dos caminhões com vários baldes e recorria à família para lavar roupas. “A gente saía com os baldes e ficávamos nas esquinas, porque não parava em porta de ninguém”, disse.
Três meses após o acidente, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi firmado entre o Ministério Público Estadual (MPE), a FCA e a Prefeitura de Uberaba, determinando que a empresa seria obrigada a reparar os danos ambientais decorrentes do acidente. Como forma de indenização de outros danos e aos consumidores, a FCA ficou obrigada, também, a investir em obras de benefício à comunidade local que somaram R$ 13 milhões.
Em virtude do TAC firmado, a empresa responsável teve que construir um poço artesiano profundo, dois hospitais, uma creche, um centro de vivência para a terceira idade e outro de menores, uma casa para abrigo de adolescente em situação de risco, além de viabilizar um novo caminhão do Corpo de Bombeiros e um veículo básico para o Instituto Estadual de Florestas (IEF) na cidade.
O inquérito civil com os laudos de monitoramento e o cumprimento das determinações soma 38 volumes, cerca de nove mil páginas e está disponível para consulta no MPE.
Fonte: G1